2 de abr. de 2009

“Não faremos oposição raivosa nem sistemática ao prefeito Zé Nilton”

Empossado presidente do Partido Verde, o professor Claudomir Tavares traça o perfil do comportamento do partido nestes próximos anos e faz um balanço dos primeiros 90 dias de administração do prefeito José Nilton de Souza
Por Carol Alexandria


O Partido Verde em Pirambu está sob novo direção desde o último sábado, 28/03. Assumiu a presidência da legenda verde o professor Claudomir Tavares, em ato concorrido realizado no Bar da Amendoeira, na Rua Propriá. Ele fora eleito por unanimidade no V Encontro Municipal, realizado no dia 29 de novembro na Câmara Municipal. No dia de sua posse, os filiados verdes ainda completaram a composição da Comissão Executiva Municipal, que além de Claudomir está constituída de mais quatro dirigentes: Gelisse Bispo dos Santos – Vice-Presidente, Cláudio Biriba dos Santos – Secretário Geral, Cinoel Silva Ferreira – Tesoureiro e Jucileide Tavares da Silva Correia – Secretária de Assuntos da Mulher. Nesta entrevista concedida a Carol Alexandria, Claudomir Tavares faz um avaliação da campanha eleitoral e das ações políticas desempenhadas em 2008, um balanço dos três primeiros meses da administração José Nilton e dos desafios que terá pela frente na condição de presidente do PV.

TRIBUNA DA PRAIA – Qual o significado de sua posse na presidência do PV em Pirambu?
CLAUDOMIR TAVARES – Além de uma honra, é também uma responsabilidade muito grande, pois assumimos a direção de uma força política que não existe apenas para disputar eleições, mas para discutir políticas sócio-ambientais, de desenvolvimento sustentável não só para Pirambu, mas para o mundo, pois o Partido Verde é um partido planetário. Estou no PV desde 2003, sempre dando o melhor de mim para o crescimento e consolidação deste partido que se confunde com nossa trajetória em defesa das questões ambientais. Nossa eleição para presidi-lo, acredito, é um reconhecimento dos companheiros pelo que significamos para a causa que abraçamos e lutamos.

TRIBUNA – Na eleição passada, você teve uma participação destacada, disputando a condição de vice-prefeito na chapa encabeçada pelo petista Vado de Gago. Poderia fazer uma avaliação deste processo histórico?
CLAUDOMIR – Se tivesse que escolher um ano de minha vida, escolhia o ano de 2008. Por algumas razões, sejam elas no campo afetivo, profissional e político. Neste ano totalizamos 20 anos de exercício profissional como professor na rede estadual e 10 como professor da rede municipal. E os dois empregos que tenho foram obtidos através do legítimo concurso público, ao alcançar a 13ª colocação a nível estadual e 7º a nível municipal respectivamente. Neste ano nasceu meu primeiro filho, o maior presente que a vida poderia me dar. Recuperei a imagem que alguns tentaram arranhar, mas não se atira pedras em árvores que não dão fruto. Foi assim ao passar dois anos letivos no Colégio Estadual ‘José Amaral Lemos’, local onde estudei de 1981 a 1984 e onde iniciei minha carreira de professor em 1988. Retornei a escola no momento em que comemorava 20 anos de magistério. No campo político, tenho uma gratidão com os companheiros do PT que me escolheram por unanimidade candidato a vice-prefeito, apoiado pelo conjunto dos demais partidos, o PHS, o PSL e principalmente pelo meu PV, que apesar da ingerência externa, os verdes aprovaram nosso nome por aclamação, conforme consta em Ata da Convenção Municipal assinada por todos. A campanha eleitoral foi marcada por momentos memoráveis, ao reunir as maiores manifestações populares, a chamada ‘Onda Vermelha’, que levou um tsunami as ruas de Pirambu. Sou eternamente grato ao povo de Pirambu pelo que nos proporcionou, a mim e a Vado, aos companheiros que historicamente tem construído as lutas sociais nesta cidade.

TP – Como você analisa o resultado final?
CT – Aprendi com o prefeito Paulo Britto (de Propriá) que em eleição todos são eleitos. Uns eleitos para serem situação e administrar, como aconteceu com o prefeito José Nilton, o vice-prefeito Marcos Cruz e seu grupo e outros foram eleitos para ser oposição. Obtivemos mais de 48% dos votos. Dividimos o eleitorado meio-a-meio e isso nos dar uma responsabilidade de estar vigilante ao recado vindo das urnas. Ao perder a eleição por apenas 121 votos, obtendo 2613 votos, contra 2734 do candidato vencedor, obtivemos uma derrota eleitoral, mas uma grande vitória política. Nunca vamos poder retribuir a gentileza do povo de Pirambu que nos deu provas inequívocas de sintonia com nossa História.

TP – Como a campanha evoluiu para apresentar estes números finais?
CT – Ao sermos escolhidos em convenção, as pesquisas indicavam o então pré-candidato elinho (DEM), que não chegou a concorrer em convenção, com um percentual de 33%, seguido do pré-candidato do PMDB com 22%, seguido de Vado de Gago, do PT, com algo em torno de 12%. Em 03 de setembro recebemos os resultados de uma pesquisa feita pela nossa coligação (Pirambu para todos – PT, PV, PHS e PSL), que dava ao candidato do PMDB uma vitória de 10 pontos percentuais. Ele vencia em todos os bairros e seguimentos. A partir do dia 04 em diante, as adesões a nossa chapa vieram e em pesquisas encomendadas para consumo interno pelo governador Marcelo Déda, e divulgada, salvo engano, depois dos dias 10, 20 e 30 de setembro, colocava Vado de Gago/Professor Claudomir com 10% a frente, algo surpreendente. Isto ‘municiou’ nossos adversários, que com o mesmo mapa que tínhamos, e utilizando-se de métodos conhecidos por todos, viraram o jogo nos três dias antes da eleição. Isso associado a coerção, cooptação, nos impuseram uma derrota eleitoral, mas que nos proporcionaram lições que ficam prá sempre.

TP – Houve problemas internos que dificultaram a campanha eleitoral?
CT – Vários! Não os cito para que não faça render estes assuntos que são de domínio público, que tornaram-se visíveis com o afastamento de quadros importantes da campanha eleitoral e o afastamento do projeto político construído coletivamente, para desencadear em um projeto familiar.

TP – Em algum momento percebeu salto alto da coligação?
CT – Sim! Quando de posse dos números que indicavam nossa vitória, foram escolhidos os que ‘entrariam no paraíso’ e aqueles que ‘seriam mandados para o purgatório’.

TP – Há mágoas deste grupo?
CT – Nenhuma, só lições. Nós que resistimos contra as ingerências externas, cooptação aos nossos ‘companheiros’, tivemos alguns quadros que classificamos de ‘heróis da resistência’ acusados de terem traído. Nunca duvidamos de suas coerências. O nosso partido manteve-se fiel, afinal, mesmo não acreditando mais no projeto que fora descaracterizado, estávamos representados na chapa majoritária, e elegê-lo era uma prioridade do PV em Sergipe, até porque poderíamos reconstruir o sentido que originou a Coligação ‘Pirambu para todos’. Esta questão era ponto pacífico entre nós. Temos pelos companheiros de campanha uma relação de amizade inabalável, mas uma convivência política depende da evolução de seus comportamentos. Acho que o grupo que se formou em torno de Vado de Gago (PT)/Professor Claudomir (PV) tem uma tarefa inadiável, inarredável, mas, se nos permite opinar, precisa refletir sobre sua ação, retomando o rumo que sempre norteou sua ação em nossa cidade. Em breve publicaremos o texto de memórias que deverá ter um título do tipo ‘Quase lá: diário de uma campanha’.

TP – Poderia citar alguns destes atores sociais?
CT – Sim, claro. Há quadros fantásticos no PT, por exemplo, entre eles Gilvan Souza, Elder Muniz, Tereza Cariri, Dedinha, José Ronaldo, David Oliveira, Daniel Luiz, Dácio do MST, George Campos, os vereadores Sandro e Badinho e tantos outros que ao citá-los, incorremos no risco de esquecê-los. Além disso, é preciso ‘atrair’ para este projeto os companheiros do PSOL, manter o PHS e o PSL, reconstruindo um projeto democrático e popular que sonhamos. No nosso entendimento, o projeto coletivo deve se sobrepor aos projetos pessoais.

TP – Qual a sua avaliação destes três primeiros meses de administração do prefeito José Nilton?
CT – Quero dizer que, pela pessoa do prefeito, nutro um respeito, mantenho uma relação respeitável, e tenho tido dele o mesmo comportamento. Temos projetos diferentes, matizes ideológicas que se opõem, por isso uma convivência política tornou-se impossível, principalmente pelos métodos e comportamentos que se verificaram no período de articulação pré-convenção e da forma como se desenrolou a campanha eleitoral. Terminada a eleição, fui o primeiro adversário a ligar para ele, era 07h59min, parabenizando-o pela vitória e desejando-lhe boa sorte. Dele ouvimos a resposta de que a partir daquele momento seria o prefeito de todos e que aprendeu com seu pai não guardar mágoas. Confesso que torcemos para que faça uma administração profícua e que cumpra com os compromisso assumidos e escolhidos pelo povo de Pirambu. Mas passados três meses de sua administração, é necessário estabelecer algumas reflexões, e adianto que são as mais fraternas possíveis.

TP – E quais seriam?
CT – O economista José Nilton,como sabemos, vem da iniciativa privada, onde aqueles que hierarquicamente estavam sob seu comando, precisavam mostrar resultados, para se estabelecer. Sua equipe de governo, com uma ou duas exceções, tem uma trajetória de administrações passadas, onde só obedeciam, nunca a partir de iniciativas próprias. Logo, os resultados da administração nestes três primeiros meses, não são aqueles esperados pelo prefeito, pelo seu agrupamento político cada vez mais disperso e, principalmente pelo conjunto da sociedade, uma vez que mesmos os que não votaram nele, acreditavam ser uma administração pelo menos diferente.

TP – Qual seria a saída?
CT – Honestamente, recebi um recado das urnas e se o povo quisesse nossa contribuição, teria elegido a chapa Vado de Gago/Professor Claudomir. Assim, fomos eleitos oposição a atual administração. Qualquer posição diferente desta seria capitulação, e historicamente temos dado provas inequívocas de não vacilar. Mas como cidadão, acredito que o prefeito tem todas as condicionantes de acertar, de rever posições do time escalado, de reorientar a equipe e, mais na frente, e ele já está operando neste sentido, efetuar as mudanças necessárias. Pessoalmente não acredito que os acertos venham apenas na mudança deste ou daquele auxiliar, mas de atitude, de perfil de governo. O prefeito precisa encarar as questões de frente, dizer para os aliados e a partir daí para a sociedade, qual a real situação da prefeitura, o que tem feito para não aviltá-la, estabelecer um diálogo com os servidores, e pousar no Porto Seguro da humildade, o que lhe tem faltado, quando não assume a condição de impessoalidade na gestão do erário.

TP – Como o Partido Verde irá se comportar diante deste quadro?
CT – Assumi a presidência do partido no último sábado, e nestes dias estamos dando início a resolução de algumas situações legais acumuladas das gestões Cláudio da Conceição e Júnior Soledade e que nem Pepê (Jailson da Conceição) e Careca (Cinoel Ferreira), pela informalidade, interinidade e excepcionalidade com que se tornaram presidentes, não tiveram tempo e nem condição legal de restabelecer. Este é nosso primeiro desafio, para legalizar o PV de Pirambu junto a Executiva Estadual, da qual faço parte na condição de Secretário de Formação. Em nosso primeiro pronunciamento como novo presidente do Partido Verde, defendemos que o partido não deve fazer uma oposição raivosa, sistemática ao prefeito José Nilton de Souza (PMDB), mas que na condição de legítimo representante da oposição, estaremos vigilantes e, quando solicitados, darmos nossa opinião diante de questões que dizem respeito aos interesses macros da sociedade.

TP – E o futuro do PV?
CT – Estamos reorganizando o partido em Sergipe. Elegemos em 2008 17 vereadores e um vice-prefeito. O Partido Verde segue uma linha de independência em Sergipe, não se aliando ao desastroso governo de Marcelo Déda nem ao carcomido João Alves Filho. É preciso ter muita responsabilidade, e os desafios passam pela prioridade que temos de eleger em 2010 nosso deputado estadual e federal. Aqui em Pirambu e na região do Vale do Japaratuba iremos fazer este debate, necessariamente.
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Entrevista concedida a radialista Carl Alexandria e publicado no Portal Tribuna da Praia em 02 de abril de 2009

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