11 de abr. de 2011

CANAL DO POMONGA: o elo com o São Francisco

Projeto pretendia ligar no século XIX os rios Real ao São Francisco através de canais

Por Antônio Samarone de Santana

“Velho sonho de Sergipe”

“o Rio Real ligando, por canais, ao São Francisco!”

Sebrão Sobrinho

“Laudas da História do Aracaju”.

Como bem expressa o velho Sebrão na epígrafe acima, os sergipanos lutaram tenazmente, durante todo o século XIUX, para interligar e tornar navegável os vários rios que cortam o nosso pequeno Estado. Obra de grande fôlego e de conseqüências benéficas para a nossa economia. O rio Real se ligaria ao Vaza-Barris por um canal a ser construído entre o rio Fundo e o rio Piauí; o Vaza-Barris se ligaria ao rio Sergipe pelo canal de Santa Maria ; o rio Sergipe ao Japaratuba pelo canal São Sebastião ou do Pomonga: e essa última ligação entre o rio Japaratuba e o rio São Francisco, seria feita através do riacho Betume, lagoa Pirambu, Catú e Lagoa Redonda.

Uma lei provincial de 16 de março de 1835, autorizou o Presidente da Província, abrir um canal ligando o rio Sergipe, através do Pomonga, ao rio Japaratuba. O escoamento do açúcar produzido em nossos vales justificava qualquer esforço. O Governo Imperial enviou o engenheiro militar Eusébio Gomes Barreiros, que juntamente com o sergipano Antônio José da Silva Travassos, fizeram uma longa viagem pelo território sergipano, apresentando no final um relatório circunstanciado, com mapas e plantas, sobre a viabilidade dos referidos canais. E o que ainda hoje pode parecer um sonho, foi em parte realizado: os canais de Santa Maria e do Pomonga foram construídos.

Como os recursos eram escassos para uma obra dessa magnitude optaram por iniciar o projeto pelo canal do Pomonga. Do ponto de vista econômico esse era sem dúvida a maior urgência. A região de Japaratuba era grande produtora de açúcar e estava obrigada a fazer todo o transporte pelo porto do Ganhamoroba em Maruim. Segundo Felisbelo Freire, em sua História de Sergipe, “os caprichos da política e os interesses dos trapicheiros de Maruim, que se julgavam prejudicados com a abertura do canal do Japaratuba, porque ali eram depositados os gêneros exportados de Japaratuba, adiaram a realização desse melhoramento, que só veio a ter começo de execução na administração de Dr.José Antônio de Oliveira Silva (1852), sendo concluído na administração do Dr. Inácio Joaquim Barbosa (1854).

“A obra, segundo a sua planta, foi de quarenta palmos de largura e seis de profundidade em meia maré de enchente ou vazante, na extensão de 2.082 braças, e se julgou suficiente para a navegação daqueles rios, sendo executada conforme o plano, o que é atestado não só pelo engenheiro que deu a planta, major Pyrro, como pelos engenheiros capitão Cabrita e o maior Marcelino Rodrigues Costa, que foi requisitado de Alagoas, onde se achava a serviço daquela Província”. É o que nos informa o Comendador Travassos em seus “Apontamentos Históricos e Topográficos sobre a Província de Sergipe”, publicado em 1875.

Em outra passagem, o Comendador justificando a importância do canal de Pomonga, acrescenta: “Além da importação e exportação de gêneros, a que se prestou aquele canal, muito serviu para a condução de quase toda a madeira da edificação da nova cidade de Aracaju”.

Patrimônio de Sergipe

Nesse momento, o Canal do Pomonga está obstruído. O manguezal cresceu e ocupou parte de seu leito e outras partes foram assoreadas. A verdade é que o canal só é navegável por pequenas canoas e com a maré cheia. Acredito que chegou a hora de recuperarmos esse patrimônio da história de Sergipe.

É um momento oportuno para levantar-se essa bandeira. Pirambu possui lideranças com sensibilidade e peso político para o pleito. O governo de Sergipe esforça-se para cria a desejada infra-estrutura necessária para a viabilidade do turismo. Está sendo construída a ponte Aracaju-Barra dos Coqueiros. O município de Pirambu tem se destacado por sua organização urbana e por várias iniciativas de incrementação do turismo. A reabertura do canal do Pomonga, retornando a ligação fluvial entre Aracaju e Pirambu, cria uma excelente opção de turismo, além de restabelecer o status de ilha para a Barra dos Coqueiros. Acredito também que essa obra fortalecerá a luta, já em curso, pela despoluição do rio Sergipe. ¹

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* Antônio Samarone de Santana é professor de Saúde Pública da UFS, ex-vereador de Aracaju, ex-superintendente regional do Trabalho/SE, ex-secretário municipal de saúde e atual superintendente da SMTT/Aracaju

Nota:

¹ Este artigo foi publicado no Semanáriuo Cinform e transcrito na edição impressa da Tribuna da Praia – Primavera de 2005.

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