Morte anunciada teve início quando o ex-prefeito André Moura idealizou o ‘São João Antecipado’ e tiro de misericórdia aconteceu com o ‘Forró Beach’, a continuidade disfarçada da festa promovida pelo seu desafeto político Zé Nilton
Por Claudomir Tavares * | claudomir@tribunadapraia.net
A cantora Amorosa despediu-se dos festejos juninos sergipano no mês de maio através do artigo ‘Adeus meu forró’. O texto, uma documento que ficará registrado nos anais da cultura sergipana, foi publicado neste portal e na revista Seiva impressa e através do seu blog na internet (http://revistaseiva.blogspot.com). Amorosa inicia dizendo que em um passado não tão distante “as roupas de chita saiam do armário pulando de alegria para os corpos das meninas; e meninos dançavam com alegria, sem preocupação com concursos. Tudo nascia espontâneo. Não precisava de valores expressivos para ouvir o choro de uma sanfona, o grito de um triângulo, e o rosnado sonoro de uma zabumba”, lembrava a cantora que tem sido uma referência em resistência na defesa de nossas mais autênticas manifestações culturais, e musicais em particular, sendo ela uma das mais expressivas expoentes, indubitavelmente nossa melhor intérprete.
Depois de argumentos irrefutáveis, em que registra a ‘prostituição’ das nossas festas juninas, Amorosa despede-se do forró sergipana afirmando que sairá campo e não levará a taça da derrota, “mas da dignidade de quem não se vendeu aos ritmos que a descaracterizava”, diz. “Saio de campo de batalha porque não acredito mais nas ações das autoridades em manter nossos valores; não acredito mais na educação cultural que deveria começar nas escolas; não acredito mais no compromisso do rádio com a nossa cultura mais original”, completa. “No meu caso, meu forró, partirei sem garantia que irei voltar um dia”, finaliza Amorosa.
Os argumentos de Amorosa não tem sensibilizado os gestores municipais de Sergipe, na capital e no interior, que insistem em torrar os parcos recursos que, em tese, deveriam ser investidos na cultura sergipana e de nossos municípios, para a pirotecnia dos shows milionários, de bandas que não tem qualquer sintonia com o ciclo junino, enquanto são promovidas ações de “descaso com os forrozeiros autênticos”, ainda utilizando as palavras da nossa querida Amorosa.
Mas o que isto tem a ver com os festejos juninos de Pirambu? É neste sentido que, pelo quarto ano consecutivo temos argumentado neste espaço os motivos que levaram ‘a morte anunciada do ciclo junino em Pirambu’, algo que tem sido verificado ao longo das últimas administrações municipais, leia-se André Moura, Juarez Batista, os que o sucederam e o atual Zé Nilton.
Estou em Pirambu desde janeiro de 1980. Desde aquele ano, ainda estudante da 4ª série do 1º Grau (atual Ensino Fundamental), tenho acompanhado e me integrado aos festejos juninos da cidade. Lembro das quadrilhas juninas marcadas por José Aloísio Prado (Seu Lulu), por Francisco Dias da Cruz (Quinho), das sanfonadas de Bertozo, Cícero, Zé Bengo, Chico, Zé Alexandre, Kride, Beni, Seu Arlindo, Léo do Acordeon, entre outros que ao citá-los, estamos incorrendo no ‘pecado’ de omiti-los (naturalmente que não intencionalmente).
A prefeitura, nas gestões dos prefeitos Daniel Luiz (PDS), Marcos Cruz (PDS/PFL), César Rocha (PFL), Sílvia Cruz (PFL) e no início do primeiro mandato de André Moura (DEM) armavam os arraias e ‘tome xote’, com apresentações de quadrilhas, apresentações destes artistas de um valor incalculável, e interação com outras cidades: quadrilhas de Aracaju, Japaratuba, Lagarto, entre outras que se confraternizavam em Pirambu.
Na cidade e nos povoados, várias quadrilhas juninas surgiram e abrilhantaram nossos festejos juninos, a exemplo da Quadrilha da Tartaruga, Poeirinha e Bando de Cangaceiros (Pirambu), Milho Verde (Aguilhadas), Luar do Sertão (Maribondo), Meu Xodó (Lagoa Redonda), Cambucá Maduro (Baixa Grande) e Flor da Ilha (Alagamar). Incentivadas pelo poder público ou correndo atrás de recursos para viabilizar confecção de indumentárias e pagamento de músicos, elas deram contribuições inapagáveis ao Ciclo Junino em Pirambu.
Também em Pirambu, era a Ugia de Tonho Grande que arrastava uma multidão a cada ano: estas retornaram as ruas nos enchendo de saudosismo e nostalgia em 2007 abraçada por estudantes do Colégio Estadual José Amaral Lemos, inclusive estendendo-se até o XVII Culturarte – Encontro de Cultura e Arte de Pirambu e durante as comemorações da Semana do Folclore em 2008, foi elementos de Oficinas Folclóricas (que incluía Capoeira, Ilariô, Reizado e Ugia) na Escola Municipal Mário Trindade Cruz.
Até 1987, haviam os tradicionais ‘casamentos dos matutos’ ou ‘do tabaréu’. A partir de 1988, estes foram substituídos pelo pão e circo, digo, cavalgadas quase todas elas voltadas a reunir seguidores políticos, enchê-los de churrascos, chopp, batidas de maracujá e colher os resultados em outubro de 1988, 1992, 1996, 2000, 2004, ...
As próprias escolas se renderam há 12 anos as chamadas cavalgadas ao invés de resgatar ou promover a imagem dos casamentos de matutos ou tabaréus. Não fizeram com a intenção de romper com a tradição, mas foram sim contagiadas pelo que vinha de fora para dentro, e as escolas são em sua maioria, reflexos ou caixas de ressonância da sociedade, não se propondo, com raras e honrosas exceções, a inversão de prioridades.
Posteriormente, o poder público municipal fez opção pelo ‘turismo de eventos’, que não obstante ter atraído um grande número de visitantes para nossa cidade, estes não se reverteram nas cantadas ‘divisas’ apregoadas, constituindo-se apenas em ‘eventos de lixo’, pois era exatamente isto que sobrava na cidade a cada final de apresentações dos shows, adjetivados como uma pirotecnia ou estratégia de marketing que projetaram os administradores locais e seus asseclas para a política estadual.
De São João Antecipado idealizado pela gestão de André Moura (1997/2004) a Forró Beach uma cópia mal feita da atual gestão do prefeito Zé Nilton (2009/2012), o ciclo junino em nossa cidade tem sido relegado ao Plano Zero, não havendo qualquer incentivo aquelas manifestações culturais que se fizeram presentes num passado não muito distante, mas que com o passar dos anos tem se acabado... quase em sua totalidade.
Desprovida de incentivo, e com a alta estima cada vez mais cabisbaixa, a própria comunidade tem recuado e até as fogueiras acesas em suas portas, tem se dado cada vez mais em menor número, como se verificou no último Santo Antônio e São João em Pirambu, devendo repetir-se durante o São Pedro. Aqueles que conseguem juntar ‘o real’ vai para o Forró Caju na capital, a Festa do Mastro em Capela ou o Forró Siri em Nossa Senhora do Socorro, sendo estas, não necessariamente nesta ordem, aquelas que tem recebido a cada ano um número crescente de pirambuenses.
As lembranças do Ciclo Junino tem se dado apenas na ‘Gincana Junina’ da Escola Mário Trindade Cruz (que realizou a sua oitava edição na última terça-feira, 22/06) e o ‘São João na Minha Escola’ (que acontece no dia de hoje estando em sua décima primeira edição), além das festas dos padroeiros dos povoados Lagoa Redonda (Santo Antônio) e Maribondo (São João), celebrados com fervor através da fé católica destas comunidades.
Seria arrogante de nossa parte estar querendo aqui com este artigo ser o dono da razão, da avaliação mais equilibrada, mas aceitando as contribuições e os argumentos contrários, quase sempre elementos de correção de equívocos que possamos expressar neste espaço, estamos abertos as críticas e sugestões que se fizerem necessários para melhorar a cada ano nossa avaliação sobre o Ciclo Junino em Pirambu e, sem muita pretensão, mas acreditando que os sonhos devem ser sonhados por muitos, ele ainda não morreu... e um dia conseguiremos salvá-lo (quem sabe?)!
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* Graduado em História pela UFS, especialista em Didática e Metodologia do Ensino Superior (Faculdade São Luís) e em Gestão de Recursos Hídricos (UFS). Professor das redes públicas municipal (Pirambu), estadual (Propriá) e do Pré-Universitário (Pré-Uni/SEED).
Por Claudomir Tavares * | claudomir@tribunadapraia.net
A cantora Amorosa despediu-se dos festejos juninos sergipano no mês de maio através do artigo ‘Adeus meu forró’. O texto, uma documento que ficará registrado nos anais da cultura sergipana, foi publicado neste portal e na revista Seiva impressa e através do seu blog na internet (http://revistaseiva.blogspot.com). Amorosa inicia dizendo que em um passado não tão distante “as roupas de chita saiam do armário pulando de alegria para os corpos das meninas; e meninos dançavam com alegria, sem preocupação com concursos. Tudo nascia espontâneo. Não precisava de valores expressivos para ouvir o choro de uma sanfona, o grito de um triângulo, e o rosnado sonoro de uma zabumba”, lembrava a cantora que tem sido uma referência em resistência na defesa de nossas mais autênticas manifestações culturais, e musicais em particular, sendo ela uma das mais expressivas expoentes, indubitavelmente nossa melhor intérprete.
Depois de argumentos irrefutáveis, em que registra a ‘prostituição’ das nossas festas juninas, Amorosa despede-se do forró sergipana afirmando que sairá campo e não levará a taça da derrota, “mas da dignidade de quem não se vendeu aos ritmos que a descaracterizava”, diz. “Saio de campo de batalha porque não acredito mais nas ações das autoridades em manter nossos valores; não acredito mais na educação cultural que deveria começar nas escolas; não acredito mais no compromisso do rádio com a nossa cultura mais original”, completa. “No meu caso, meu forró, partirei sem garantia que irei voltar um dia”, finaliza Amorosa.
Os argumentos de Amorosa não tem sensibilizado os gestores municipais de Sergipe, na capital e no interior, que insistem em torrar os parcos recursos que, em tese, deveriam ser investidos na cultura sergipana e de nossos municípios, para a pirotecnia dos shows milionários, de bandas que não tem qualquer sintonia com o ciclo junino, enquanto são promovidas ações de “descaso com os forrozeiros autênticos”, ainda utilizando as palavras da nossa querida Amorosa.
Mas o que isto tem a ver com os festejos juninos de Pirambu? É neste sentido que, pelo quarto ano consecutivo temos argumentado neste espaço os motivos que levaram ‘a morte anunciada do ciclo junino em Pirambu’, algo que tem sido verificado ao longo das últimas administrações municipais, leia-se André Moura, Juarez Batista, os que o sucederam e o atual Zé Nilton.
Estou em Pirambu desde janeiro de 1980. Desde aquele ano, ainda estudante da 4ª série do 1º Grau (atual Ensino Fundamental), tenho acompanhado e me integrado aos festejos juninos da cidade. Lembro das quadrilhas juninas marcadas por José Aloísio Prado (Seu Lulu), por Francisco Dias da Cruz (Quinho), das sanfonadas de Bertozo, Cícero, Zé Bengo, Chico, Zé Alexandre, Kride, Beni, Seu Arlindo, Léo do Acordeon, entre outros que ao citá-los, estamos incorrendo no ‘pecado’ de omiti-los (naturalmente que não intencionalmente).
A prefeitura, nas gestões dos prefeitos Daniel Luiz (PDS), Marcos Cruz (PDS/PFL), César Rocha (PFL), Sílvia Cruz (PFL) e no início do primeiro mandato de André Moura (DEM) armavam os arraias e ‘tome xote’, com apresentações de quadrilhas, apresentações destes artistas de um valor incalculável, e interação com outras cidades: quadrilhas de Aracaju, Japaratuba, Lagarto, entre outras que se confraternizavam em Pirambu.
Na cidade e nos povoados, várias quadrilhas juninas surgiram e abrilhantaram nossos festejos juninos, a exemplo da Quadrilha da Tartaruga, Poeirinha e Bando de Cangaceiros (Pirambu), Milho Verde (Aguilhadas), Luar do Sertão (Maribondo), Meu Xodó (Lagoa Redonda), Cambucá Maduro (Baixa Grande) e Flor da Ilha (Alagamar). Incentivadas pelo poder público ou correndo atrás de recursos para viabilizar confecção de indumentárias e pagamento de músicos, elas deram contribuições inapagáveis ao Ciclo Junino em Pirambu.
Também em Pirambu, era a Ugia de Tonho Grande que arrastava uma multidão a cada ano: estas retornaram as ruas nos enchendo de saudosismo e nostalgia em 2007 abraçada por estudantes do Colégio Estadual José Amaral Lemos, inclusive estendendo-se até o XVII Culturarte – Encontro de Cultura e Arte de Pirambu e durante as comemorações da Semana do Folclore em 2008, foi elementos de Oficinas Folclóricas (que incluía Capoeira, Ilariô, Reizado e Ugia) na Escola Municipal Mário Trindade Cruz.
Até 1987, haviam os tradicionais ‘casamentos dos matutos’ ou ‘do tabaréu’. A partir de 1988, estes foram substituídos pelo pão e circo, digo, cavalgadas quase todas elas voltadas a reunir seguidores políticos, enchê-los de churrascos, chopp, batidas de maracujá e colher os resultados em outubro de 1988, 1992, 1996, 2000, 2004, ...
As próprias escolas se renderam há 12 anos as chamadas cavalgadas ao invés de resgatar ou promover a imagem dos casamentos de matutos ou tabaréus. Não fizeram com a intenção de romper com a tradição, mas foram sim contagiadas pelo que vinha de fora para dentro, e as escolas são em sua maioria, reflexos ou caixas de ressonância da sociedade, não se propondo, com raras e honrosas exceções, a inversão de prioridades.
Posteriormente, o poder público municipal fez opção pelo ‘turismo de eventos’, que não obstante ter atraído um grande número de visitantes para nossa cidade, estes não se reverteram nas cantadas ‘divisas’ apregoadas, constituindo-se apenas em ‘eventos de lixo’, pois era exatamente isto que sobrava na cidade a cada final de apresentações dos shows, adjetivados como uma pirotecnia ou estratégia de marketing que projetaram os administradores locais e seus asseclas para a política estadual.
De São João Antecipado idealizado pela gestão de André Moura (1997/2004) a Forró Beach uma cópia mal feita da atual gestão do prefeito Zé Nilton (2009/2012), o ciclo junino em nossa cidade tem sido relegado ao Plano Zero, não havendo qualquer incentivo aquelas manifestações culturais que se fizeram presentes num passado não muito distante, mas que com o passar dos anos tem se acabado... quase em sua totalidade.
Desprovida de incentivo, e com a alta estima cada vez mais cabisbaixa, a própria comunidade tem recuado e até as fogueiras acesas em suas portas, tem se dado cada vez mais em menor número, como se verificou no último Santo Antônio e São João em Pirambu, devendo repetir-se durante o São Pedro. Aqueles que conseguem juntar ‘o real’ vai para o Forró Caju na capital, a Festa do Mastro em Capela ou o Forró Siri em Nossa Senhora do Socorro, sendo estas, não necessariamente nesta ordem, aquelas que tem recebido a cada ano um número crescente de pirambuenses.
As lembranças do Ciclo Junino tem se dado apenas na ‘Gincana Junina’ da Escola Mário Trindade Cruz (que realizou a sua oitava edição na última terça-feira, 22/06) e o ‘São João na Minha Escola’ (que acontece no dia de hoje estando em sua décima primeira edição), além das festas dos padroeiros dos povoados Lagoa Redonda (Santo Antônio) e Maribondo (São João), celebrados com fervor através da fé católica destas comunidades.
Seria arrogante de nossa parte estar querendo aqui com este artigo ser o dono da razão, da avaliação mais equilibrada, mas aceitando as contribuições e os argumentos contrários, quase sempre elementos de correção de equívocos que possamos expressar neste espaço, estamos abertos as críticas e sugestões que se fizerem necessários para melhorar a cada ano nossa avaliação sobre o Ciclo Junino em Pirambu e, sem muita pretensão, mas acreditando que os sonhos devem ser sonhados por muitos, ele ainda não morreu... e um dia conseguiremos salvá-lo (quem sabe?)!
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* Graduado em História pela UFS, especialista em Didática e Metodologia do Ensino Superior (Faculdade São Luís) e em Gestão de Recursos Hídricos (UFS). Professor das redes públicas municipal (Pirambu), estadual (Propriá) e do Pré-Universitário (Pré-Uni/SEED).
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