18 de abr. de 2010

Central Nuclear - Além de caro, é muito perigoso

Texto: Habacuque Villacorte, da Agência Alese
Foto: Maria Odília, da Agência Alese
William Nogueira promove palestra sobre energia nuclear para deputados
A Assembleia Legislativa de Sergipe promoveu, na manhã desta quinta-feira (15), uma palestra com um especialista em energia nuclear, o médico cancerologista William Eduardo Nogueira Soares, que marcou uma posição totalmente contrária a possível instalação de uma usina nuclear em Sergipe. O especialista disse que trata-se de um assunto palpitante e de grande interesse mundial, mas ressaltou que sua conduta não tem qualquer envolvimento político e que, apesar de manter laços de amizades e familiares com alguns parlamentares, não tem filiação partidária e que faz sua exposição com caráter exclusivamente técnico.

A palestra de William Eduardo Nogueira atende a uma indicação da deputada estadual Ana Lúcia (PT). O palestrante é um médico que trabalha com radiação há mais de 30 anos, um especialista em radioterapia e foi aluno de um dos maiores físicos brasileiros: José Adelino Pereira. Fez sua especialização no Hospital do Câncer de São Paulo e trabalha no setor de radioterapia do Hospital João Alves Filho. “O tema de minha palestra é: Energia Nuclear e outras alternativas energéticas”.

Ao iniciar sua exposição, Dr. William explicou para os parlamentares sobre o que é a energia nuclear, qual o seu potencial e como ela é produzida. “A energia nuclear pode ser usada em caráter bélico, lembrando que 1 kg dela tem energia semelhante a 20 mil toneladas de dinamite; e pode ser usada em caráter pacífico, como na radioterapia e na medicina nuclear, por exemplo. O princípio de sua produção é o mesmo que produz a energia cinética que provocou a revolução industrial. É necessária uma caldeira com água, que será transformada em vapor. A água é aquecida e o vapor vai movimentar o pistão, movimentando a roda que produzia a energia necessária para as máquinas da época”, explicou.

Em seguida, o médico disse que “é aqui que acontece o grande problema: quando a água fica sob pressão para não evaporar. O vapor movimenta uma turbina que movimenta um gerador que produz a eletricidade a ser é utilizada. A usina nuclear depende de água para a produção de vapor e para o resfriamento do circuito primário e secundário. Mesmo essa água condensando ainda há uma evaporação grande de vapor que contribui para o aquecimento global”, acrescentou.

Vantagens - Como vantagens da Usina Nuclear, o médicos citou as teses dos grandes defensores do aproveitamento da energia. “Patrick Moore (também conhecido como lobista da indústria nuclear ou Eco-Judas) é um consultor canadense, que foi um dos fundadores do Greenpeace. Era contrário a adesão desta energia, até ser contratado por um dos maiores grupos de energia nuclear. Hoje ele mudou de lado e agora é a favor. Dizem que a energia é limpa porque não emite gases do efeito estufa; é uma fonte de energia barata; não polui; tem flexibilidade na localização das usinas; não depende de fatores meteorológicos para o seu funcionamento”.

“Mas tudo isso não é bem verdade. Aquele vapor que é eliminado que eu já comentei é um potente gás estufa; em entrevista o próprio Patrick confirmou que a energia nuclear é mais cara que a hidrelétrica e que a termelétrica; trata-se de um dos maiores poluidores do mundo em virtude da poluição radioativa; precisa de muita água e não pode ser construida na caatinga ou em um grande deserto; e a prova que depende dos fatores meteorológicos são os contantes desligamentos nas Usinas de Angra. Quem sobrevive com subsídios da industria nuclear, como Patrick, não merece crédito”, completou o medico cancerologista.

Desvantagens - Sobre as desvantagens da Usina Nuclear, o médico disse que “há a necessidade de se armazenar o resíduo nuclear em local protegido e isolado; e a necessidade de se isolar a central de poiteira após o descomissionamento; após 20 ou 30 anos de uso esta central nuclear tem que ser desmontada, lacrada e isso, além de caro, é muito perigoso. Isso interfere com o ecossistema porque esses resíduos produzem radioatividade durante anos. Se um rio como o São Francisco for contaminado, por exemplo, vamos esperar 700 milhões de anos. Sem contar que o custo médio para a expansão do sistema hidrelétrico, por exemplo, é menor que o investimento feito em Angra. Essa história de quem vem uma Usina para Sergipe, gerando dois ou três mil empregos e que vai trazer R$ 7 bilhões, deve ser visto de outra forma. O preço que vai se pagar para construir duas usinas nucleares no Nordeste brasileiro daria para garantir a independência energética da nossa região”, garantiu.

Acidentes - Dr. William disse ainda que “existem registros de vários acidentes nucleares no mundo. O primeiro deles, em Liverpool, morreram 39 pessoas e, apenas 20 anos depois, que os registros vieram a tona; depois tivemos na Rússia e nos Estados Unidos. Em 1999, um vazamento de radiação no Japão provocou a morte de dois trabalhadores. Ali houve o transtorno de ter que retirar, emergencialmente, mais de 320 mil pessoas que habitavam a região. O governo japonês obrigou o fechamento de 17 usinas por falsificação de licenças de segurança. Na Espanha, em 2008, eu estava lá, a passeio com minha filha e minha esposa, e de repente, fomos surpreendidos com todas aquelas ambulâncias e bombeiros. Foi o maior sufoco que passei e todos ficaram muito assustados”.

Outras alternativas - Como outras alternativas energéticas, o médico apresentou fontes renováveis e inesgotáveis. “A usina hidrelétrica, por exemplo, é uma. O Brasil só utiliza 1/3 do nosso potencial. Agora tem que trocar as turbinas, tem que substituir as antigas por novas; tem o biocombustível; tem a energia solar; a energia eólica, que temos um grande potencial; em Portugal há uma tecnologia inglesa que pega o movimento mecânico das ondas e transforma em energia elétrica; o vai-e-vem das marés é uma potente energia e basta transformar em eletricidade; não sei se vamos utilizar esta energia um dia, mas na Noruega, desde o final de 2009, que foi construído um protótipo de energia azul, que segue o princípio da osmose, onde usa-se o mar, rico em cloreto de sódio. Basta colocar uma película entre a água salgada e o rio, que vai se absorver eletricidade entre os átomos e estes serão transformados em íons de energia. E qual o produto final desta usina? Agua!”.

Radioretapia – Conhecedor da área, Dr. William enfatizou que Sergipe não precisa de uma Usina Nuclear. “Em primeiro lugar existe uma lei, aprovada por esta Casa, proibindo a instalação destas usinas em solo sergipano; nossos filhos merecem coisa melhor. Trata-se de um assunto que interessa diretamente a população. Precisamos sim é de aparelhos de radioterapia. Mesmo com o investimento de U$$ 8 bilhões e com a geração de seis mil empregos, não se encontrará a cura do câncer. O que cura é o aparelho de radioterapia. É um investimento de U$$ 1 milhão e Sergipe precisa urgentemente. Eu trabalho na linha de frente atendendo aos pacientes e vocês não sabem o constrangimento...”, disse o palestrante que emocionou-se na tribuna da AL.

E seguiu, dizendo que “a tristeza de dizer 'não' a esses pacientes. Não temos condições de atender a 300 ou mais, que morrem dia a dia. O câncer é inexorável! Os casos com estágio 1 ou 2 estão evoluindo para 3 e 4 e aí nós já não conseguimos a cura ou a teremos com grande sofrimento para o paciente e seus familiares”, finalizou.

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