Por Luiz Fernando Ribeiro Soutelo *
O roteiro da viagem e a comitiva - A esquadrilha imperial, formada pelos vapores Apa e Amazonas, pela corveta Paraense e pela canhoneira Belmonte, sob o comando do Vice-Almirante Joaquim Marques Lisboa, futuro Marquês de Tamandaré, partiu do Rio de Janeiro a 1º de outubro de 1859, sob entusiasmadas manifestações da população do Rio de Janeiro. A 6 do mesmo mês, chegava o casal imperial à cidade de Salvador, que Dom Pedro II deixou a 11, para visitar a cachoeira de Paulo Afonso e as localidades alagoana e sergipana do Baixo São Francisco (Propriá, Neópolis, Curral de Pedras, atual Gararu, além da ilha de São Pedro.
Retornando à capital baiana a 26, logo saía o Imperador para um giro pelo Recôncavo e outras cidades, até 18 de novembro. A 19 seguiam Dom Pedro II e a Imperatriz D. Teresa Cristina para Pernambuco, de onde foram em visita, entre 24 e 30 de dezembro, à Paraíba, partindo daí para Maceió. A visita a Alagoas se prolongaria até 10 de janeiro de 1860. A 11, estavam os monarcas em Aracaju, desembarcando na ponte que, mais tarde, chamariam “ponte do Imperador”.
A permanência imperial em Sergipe ocorreria até 20 de janeiro, visitando Aracaju (com uma passada na Barra dos Coqueiros), São Cristóvão, Maruim, Laranjeiras, Itaporanga d´Ajuda (na passagem para o engenho Escurial) e Estância. Daí seguiram para Valença e outros pontos do sul da Bahia. A 26 estavam Dom Pedro II e D. Teresa Cristina em Vitória, dando início à estada na província do Espírito Santo, visitando não apenas a capital, mas também algumas cidades e vilas do interior e uma aldeia indígena. Em Guarapari, o Imperador encontraria o arquiduque Ferdinando Maximiliano, futuro Imperador do México (1864-1867), irmão do Imperador Francisco José, da Áustria e seu primo em primeiro grau. Ele viajava pela América do Sul a bordo da fragata Elizabeth, da marinha austríaca.
Em seu diário de viagem, anotará Dom Pedro II que, “enquanto a maré enche, visitei o arquiduque que me deu suas Viagens impressas e prometeu-me um impresso de suas poesias, de que vi outro na biblioteca, que tem bons livros, sobretudo de viajantes e história natural” (CALMON, 1975, 2: 628).
Aliás, diziam que esta viagem do austríaco, embora tida de recreio, tinha um objetivo secreto: negociar o casamento de uma das princesas brasileiras com o Conde de Flandres (1837-1905), seu cunhado, ou mesmo com o Arquiduque Luiz Vitor(1842-1919), seu irmão, que terminaria a vida, afastado da corte, porque envolvido em escândalos com jovens mancebos dos banhos turcos em Viena. (CASTELOT, 1977:48)
A 10 de fevereiro, iniciava o Imperador e a Imperatriz a viagem de volta ao Rio de Janeiro, aonde chegaram no dia seguinte, encerrando uma viagem de mais de quatro meses.
Nesta viagem, estava o casal imperial acompanhado de uma comitiva da qual faziam parte o Ministro do Império, João Pereira de Almeida Filho, o Visconde de Sapucaí (camarista do Imperador), o Conselheiro Luiz Pedreira do Couto Ferraz (veador da Imperatriz), Conselheiro Antônio Manuel de Melo (guarda-roupa do Imperador), Antônio d´Araújo Ferreira Jacobina (mordomo em viagem), Cônego Antônio José de Melo (capelão em viagem), Dr. Francisco Bonifácio de Abreu (médico da Imperial Câmara), D. Josefina da Fonseca Costa (dama da Imperatriz), D. Maria José da Conceição Araújo (retreta da Imperatriz), Manoel Joaquim de Paiva e Pedro Antônio de Paiva (criados do Imperador), além de quarenta e cinco pessoas integrantes do círculo de criados.
O Vice-Almirante Joaquim Marques Lisboa, futuro Marquês de Tamandaré, viajava na dupla condição de veador da Casa Imperial e comandante da flotilha.
“Deveria silenciar, pois o iate – escreve o Arquiduque Maximiliano a seu irmão, o Imperador da Áustria – é muito parecido com uma barca de emigrantes; e quanto à corte ficaria muito melhor na selva virgem, na copa das palmeiras do que fardas bordadas a ouro e chapéus enormes, que usam sempre. A despeito disto quis parecer-me que o Imperador está tratando os que o rodeiam sem consideração, tanto que, debaixo do sol, têm de conservar-se de cabeça descoberta, horas a fio. Em geral nesta corte os extremos se tocam. A origem é silvícola e a etiqueta européia, já caduca. Não sem razão que o Almirante Lisboa, o único homem conveniente da comitiva do Imperador, repetidas vezes observava que seria muito vantajoso para D. Pedro II ir à Europa, por algum tempo, para frequentar os príncipes!” (In: CALMON, 1975, 629-630).
____________________________
* Escritor e Historiador
Bibliografia
1. CALMON, Pedro. História de Dom Pedro II, v.2, Rio de Janeiro/Brasília: Livraria José Olympio Editora / Instituto Nacional do Livro, 1975.
2. CASTELOT, André. Maximilen et Charlotte du Mexique – La tragédie de l´ ambition, Paris: Librairie Académique Perrin, 1977
Fonte: www.tribunadapraia.com - Em: 29/11/2009
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