1 de mai. de 2010

Dia Internacional dos Trabalhadores

Uma história de luta e de classe que o tempo não apaga
Por Antônio Carlos da Silva Góis *
Afinal de contas, o 1° de Maio é dia do trabalhador ou dia do trabalho? Por quê existe essa data? Por quê enquanto uns fazem festa, bingo, sorteios, outros protestam. Por que a televisão, os jornais e as rádios não falam sobre o significado do 1° de Maio?

Vamos às origens dessa história que perdura há mais de 100 anos para contar o seu significado e como tudo aconteceu, desde àquela tarde chuvosa de 1° de maio de 1886, os acontecimentos que se seguiram, até aos dias de hoje.

124 anos de história: Os fatos que aconteceriam durante aquele dia marcariam para sempre consciências e corações de trabalhadores em todo o mundo. A amplitude e a repercussão atingiram proporções inimagináveis, culminando, inclusive, em radicais transformações política, econômica, sociais e culturais em sociedades inteiras marcando definitivamente o século 20 e, tomara o século 21.

As condições de trabalho, os baixos salários e a exploração do trabalho infantil. Repressão da polícia era o método utilizado para conter os protestos e as greves. Diálogo entre patrões e empregados, nem pensar!

A jornada de trabalho chegava a mais de 12 horas de trabalho por dia. As crianças, filhos dos operários, eram encaminhadas para o trabalho, ainda entre 7 e 9 anos de idade.

As primeiras organizações operárias passaram nessa época, a reivindicar o fim do trabalho infantil e a redução da jornada de trabalho

Os patrões, irredutíveis, só aceitavam discutir a reivindicação se os trabalhadores aceitassem uma redução de 50% em seus salários.

Em 1886, nos Estados Unidos, a Federação dos Grêmios e Sindicatos Operários, organiza e deflagra uma greve geral em todo o país para o dia 1° de maio. Um sábado chuvoso, estoura a greve, em diversas cidades dos EUA. A paralisação transcorre normalmente, inclusive em Chicago. Mas a história iria mudar.

Repressão e assassinatos: Os 350 mil operários das fábricas de Chicago cruzaram os braços. As manifestações aconteceram normalmente. No dia seguinte, domingo, a polícia entra em choque com os grevistas. Nove mortos. Na segunda-feira, mais quatro operários em greve são mortos nos conflitos. Em reposta, é realizado no dia 4 de maio, um grande ato público contra a repressão policial. A Praça do Mercado de Feno, centro de Chicago, é o local da manifestação. Às 16h, quando o último orador, Samuel Fielden, iniciava seu discurs o, o chefe de polícia exigiu que ele descesse do palanque. Enquanto discutiam, uma bomba explode no meio da multidão. Um policial morre. A polícia abre fogo. Resultado: 80 operários são assassinados.

A polícia de Chicago inicia, Imediatamente, a caça aos líderes da greve. Cinco deles são condenados à morte, os outros três à prisão perpétua. No dia 11 de novembro de 1887, quatro são enforcados, outro morre ainda na prisão.

Dia Internacional dos Trabalhadores: Dois anos mais tarde, em 14 de julho de 1889, durante as celebrações do primeiro centenário da Queda da Bastilha, o Congresso Internacional dos Partidos Socialistas, reunido em Paris, França, fundam a Segunda Internacional Socialista e decidem proclamar o 1° de Maio como "Dia Internacional do Trabalho", em homenagem aos mortos de hicago. A partir daquele ano, em todo 1° de maio haveria manifestações, reuniões e desfiles sob a bandeira da Comuna de Par is em todas as partes do mundo, menos nos EUA que, até hoje, não reconhece essa data.

Já em 1919, sob a influência do líder da Revolução Russa, a Terceira Internacional Socialista. O 1° de Maio novamente é colocado em pauta, reforçado como ?Dia Internacional dos trabalhadores?.

1º de Maio no Brasil: Enquanto os operários de Chicago saíam ás ruas para reivindicar melhores condições de trabalho, redução da jornada e o fim do trabalho infantil, no Brasil o operariado ainda era quase inexistente. A economia, essencialmente agrícola e o regime de trabalho escravocrata.

A primeira notícia de greve no país veio dos gráficos cariocas, que paralisaram as oficinas em 1858. Ocorreriam greves ainda entre as categorias importantes na época, ferroviários, em 1863, estivadores em 1877, transportes urbanos, chapeleiros e vidraceiros em 1903.

Comprovadamente, a primeira grande manifestação ocorreu no Rio de Janeiro, em 1906, organizado pela Confederação Operária Brasileira, COB, primeira experiência de central sindical no país. Contrariando as tendências da época, a COB combatia, veementemente, aqueles que encaravam a data como dia festivo. As palavras de ordem eram "redução da jornada, melhores condições de trabalho e autonomia sindical", culminando com a greve geral de junho de 1917.

1º de Maio em Sergipe: Em 1911, tem-se em Sergipe a primeira comemoração do 1º de maio, e ocorreu de forma pública, pelas ruas de Aracaju. O evento foi organizado pelo Centro Operário Sergipano - COS, segundo publicado na imprensa da época, a manifestação saiu do bairro industrial em direção ao centro de Aracaju com uma vasta programação.

Populismo, golpe e a resistência; Getúlio Vargas, ao assumir a presidência da república em 1930, decide realizar os atos do 1º de Maio grandiosos, com festas suntuosas, desfi les e discursos intermináveis. Tornou o 1º de Maio o "Dia do Presidente", data escolhida para divulgar correções no salário mínimo e reformas trabalhistas.

Com o fim da ditadura Vargas, em 1945, e a retomada do Estado de Direito, o país pôde respirar um pouco os ares da democracia. Os sindicatos, antes assistencialistas ao extremo e completamente atrelados ao Estado, iniciam tímidos vôos independentes. O CGT, Comando Geral dos Trabalhadores, e a Liga Camponesa, têm grande influência, sobretudo no governo populista de João Goulart e em suas reformas de base.

Mas o golpe de 1964 desferido pelas Forças Armadas, em consonância com grandes empresários, latifundiários e banqueiros, tratou de dizimar o que havia de organizado no movimento sindical. Por mais que os sindicatos fossem atrelados ao Estado e seus dirigentes dóceis ao regime. Somente em 1969, o general Costa e Silva retomou a organização dos sindicatos, evidentemente ao gos to dos militares e sob tutela política dos norte-americanos.

Surge um novo sindicalismo: O modelo econômico do regime militar havia se esgotado. A dívida externa aumentava a dependência econômica e as multinacionais pressionavam o regime a realizar a ?distensão?. A classe trabalhadora volta a se organizar e a ter esperanças. Começa a derrubada dos chamados "pelegos" encastelados nos sindicatos, muitos deles desde 1964.

Em 1978, estoura a greve dos metalúrgicos de Osasco, a primeira desde o início da ditadura, seguida por várias grandes greves no ABC Paulista. Em 1979 as manifestações do 1º de Maio concentram-se no ABC, mas é nas comemorações de 1980 que a ditadura enfrentaria, decisivamente, a resistência dos trabalhadores contra o arbítrio. Mais de 100 mil pessoas encaram os cerca de 30 mil policiais e os helicópteros da Tropa de Choque, com metralhadoras apontadas, e realizam um dos maiores atos do 1º de Maio até então . A partir daí,ninguém mais conseguiria deter a organização dos trabalhadores, sendo a CUT a grande referência e dirigentes das lutas.

1º de maio hoje: 124 anos depois, a luta pela redução jornada de trabalho continua presente. Não apenas como um remédio eficaz para a crise do desemprego em massa. Possui uma dimensão mais ampla, quando se compreende que o tempo livre é a verdadeira e maior riqueza do ser humano - e, em perspectiva, o caminho para a liberdade dos trabalhadores.

Ao reduzir o tempo de trabalho necessário á produção, o avanço da produtividade cria as condições objetivas necessárias para a redução da jornada, que, todavia jamais foi efetivada na história como uma dádiva do capital. Tem sido ? e sempre será no capitalismo - o fruto de uma luta sem tréguas dos trabalhadores.

O 1º de Maio é mais um momento de afirmar que nenhuma nova conquista será possível se não formos capazes de preservar velhas conquistas e reafirmar as bandeiras de lutas imediatas e histórias da classe trabalhadora.

Enfim, o 1º de maio é dia de luta! Assim deve ser vivenciado. Antes de comemorações, a data é mais uma etapa na construção de um novo modelo de organização social, sem discriminação entre homens e mulheres nem por raça, cor, orientação política e sexual . Ou seja, um modelo onde justiça, igualdade, solidariedade sejam tratados como valores preservados na luta diária da classe trabalhadora contra a exclusão social. Princípios fundamentais que fazem parte do sonho de uma sociedade sem explorados.

Hoje, mais do que nunca, o exemplo daqueles trabalhadores deve servir de forças para continuar na luta com a perspectiva de combater a exploração e a exclusão, além de exigir mudanças políticas na perspectiva do desenvolvimento socialmente justo e ecologicamente equilibrado.

"A história de toda a sociedade. ..
é a história da luta de classes".
Marx e Engels
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* Ex-Presiddente da CUT/SE

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