Por Rodorval Ramalho
Estamos vivendo o outono de toda uma geração de políticos. Ódio à livre concorrência e amor ao monopolismo estatal são uma combinação cultuada por esses dirigentes desde sempre. Arrogância autoritária, falta de transparência, centralismo administrativo, ausência de perspectiva estratégica, ineficiência das políticas públicas e falta de imaginação são traços que também podem ser debitados na conta das lideranças dessa fase.
Nosso contentamento com o declínio e conseqüente afastamento desse pessoal só poderia ser maior se a ‘nova hegemonia moral e intelectual’, expressão criada pelo desequilibrado Ciro Gomes, se mostrasse superior à antiga. Não é o caso. Façamos um rápido giro por alguns nomes emergentes: Cid Gomes (CE), Eduardo Campos (PE), Téo Vilela (AL), Jacques Wagner (BA), Sérgio Cabral (RJ), Marcelo Déda (SE), Aécio Neves (MG), Cássio Cunha Lima (PB), Wellington Dias (PI). Não há nada nessa turma que justifique nenhum otimismo.
Custa-me crer que os nomes citados, exemplarmente, emergiram na cena política por méritos programáticos, morais ou ideológicos. Ao contrário, tudo me faz acreditar que a renovação se deu por ‘desgaste do material anterior’. Esses senhores já consumiram 1/3 de seus mandatos e absolutamente nada apresentaram de efetiva renovação nos modos de administrar a coisa pública. Três deles (Cássio, Aécio e Wellington), inclusive, já estão no segundo mandato.
Nada dizem acerca da natureza capenga e autoritária da nossa Federação. Preferem escalavrar os joelhos diante do Governo central, que continua exigindo subserviência e bajulação. Não estão empenhados em renovar os métodos de ação política junto aos Poderes Legislativo e Judiciário. Em relação a este, permanecem indicando figuras dóceis que não lhes trarão problemas futuros, postergando pagamentos referentes a decisões judiciais e emudecendo nos casos de excessos desse poder.
A relação com o Poder Legislativo também não demonstra nenhum aprimoramento, pois continua mediada pela pior tradição fisiológica, viabilizada pela cooptação e pelo estímulo à infidelidade partidária. Vejam as Assembléias Legislativas e façam as contas do que sobrou na oposição. Nesse sentido, essas novas lideranças apresentam o que o magistral Reinaldo Azevedo chama de ‘síndrome do PUN’, que exterioriza-se na tentativa de criação de uma espécie de Partido Único Nacional, que administraria, sem os incômodos oposicionistas, as doçuras do exercício do poder através de um verdadeiro condomínio-fechado. A nova geração está conseguindo a confluência de duas culturas políticas da pior espécie – o totalitarismo da esquerda internacional e o autoritarismo populista latino-americano.
Todos eles também têm aquele ‘ar inaugural’ e patético do ‘nunca antes neste Estado’. Pura propaganda para incautos. Aliás, por falar em propaganda, esta é uma área onde o continuísmo é também flagrante. Aqui, observamos a reprodução do péssimo hábito de inundar os órgãos de imprensa com propaganda paga e de reforçar o que eles chamam de ‘rede pública de informações’. Nos dois casos, não há informações, mas propaganda e marketing da pior espécie, pois feitas com rios de dinheiro da Viúva.
Se considerarmos as políticas públicas mais tradicionais (educação, saúde, segurança pública, transportes), a mesmice é igualmente óbvia. Não apresentam novos projetos em nenhum desses setores. No máximo, repetem os pequenos acertos e os grandes erros. Continuamos à mercê de mosquitos, de buracos, de caos nos transportes coletivos, de escola que não ensina, de lerdeza administrativa, escândalos de proporções variadas, mordomias cada vez mais amplas e de toda sorte de reprodução de velhos vícios.
A velha geração justificava suas limitações reclamando da inflação, da instabilidade monetária, das dívidas, da baixa arrecadação e outras mazelas produzidas, inclusive, por eles mesmos. Os novos inventam outras desculpas, pois estas já vêm sendo equacionadas desde o Plano Real. Hoje, a desculpa mais comum é a da ‘herança maldita’ dos Governos anteriores, o que também não pode ser contabilizado como inovação.
Uma das conseqüências das ações políticas de nossas lideranças, de ontem e de hoje, é a manutenção do Brasil no seu ritmo de cágado – pode até andar pra frente, mas numa vagareza irritante. Assim, costumamos perder o tal bonde da história, chegando sempre atrasados nas festas da prosperidade e da democracia.
Infelizmente, essa nova geração, na melhor das hipóteses, nos manterá como quelônios. No final de suas carreiras terão o mesmo perfil daqueles que hoje estão saindo de cena – serão mais ricos, deixarão algum herdeiro político, dirão que contribuíram para o desenvolvimento do país, serão incensados pelos xeleléus, esquecidos pelas pessoas comuns e, principalmente, deixarão um fardo por demais pesado para as gerações seguintes. Eis, Brasil, a tua prisão de longa duração.
Fonte: Cinform On-Line – Em: 16/06/2008
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