Professor, vereador, advogado, Juscelino Pinheiro de Britto é uma figura que tem feito muita falta a Japaratuba de tanta efervescência cultural (1)
Por Claudomir Tavares | claudomir@infonet.cim.br
Lendo esta semana mais uma postagem de Juscelino Britto em nosso Livro de Visitas, lembrei de uma passagem de nossa história que deve ter sido a mesma de muitos de nossa geração que nos anos 80 iniciaram uma relação com a cidade de Japaratuba. Foi nesta época que iniciávamos os estudos cursando o 2º Grau no Colégio Cenecista Senador Albano do Prado Pimentel Franco, que funcionou até o ano de 1986 no prédio do atual Colégio Estadual Senador Gonçalo Prado Rollemberg.
Alí conhecemos um professor de Educação Moral e Cívica e Organização Social e Política do Brasil. Ativista cultural e sintonizado com as questões sociais de sua comunidade, o advogado Juscelino Pinheiro de Britto elegeu-se vereador pela PDS em 1983. Não conseguiu reeleger-se em 1988. Não foi ele o derrotado, e sim a cidade de Japaratuba, a cultura da cidade, a Escola de Samba Unidos de Japaratuba, o Ginásio Municipal Emiliano Nunes de Moura, da qual foi o principal responsável pela implantação do 2º Grau (Contabilidade e Pedagógico) naquela instituição.
:: Um caso de amor com Japaratuba
Juscelino era entre todos os japaratubenses, o mais apaixonado pela sua cidade. Ele não era padre (pelo contrário, fazia oposição a um padre que depois viria a se tornar prefeito), mas a relação de amor e de compromisso, comprometimento com a sua cidade, era um sacerdócio. “É uma relação de amor com a cidade, uma relação pacional com a cidade que se confunde com sua vida’” descreveu Zilma Britto, sua irmã, a qual tive o prazer de conhecê-la em 2007, cursando a Pós-Graduação (aperfeiçoamento) em Gestão de Recursos Hídricos.
:: A Casa de Japaratuba
Juscelino residia em uma casa localizada à Praça Pe Caio Tavares, tendo como vizinho direito a residência de ‘dona’ Eunice Menezes (mãe do ex-vereador Ceno) e do lado esquerdo a Agência do Banese. Esta era a referência de estudantes de Pirambu, Aguilhadas, Maribondo, São José, Fleixeiras, Curral do Meio, Aguada, Carmópolis e da cidade de Japaratuba. “Era nosso albergue, um ponto de apoio dos estudantes tanto de Japaratuba quanto dos demais municípios”, descreveu a época os estudantes Anderson (Aguada) e Wilmo (Fleixeiras).
Sua residência estava sempre abertas (as portas existiam apenas para uma formalidade arquitetônica) para receber, orientar, amparar, abrigar estudantes, a juventude, o universo cultural e político que transformava a residência do advogado-professor-vereador. Juscelino defendia seus estudantes como ‘um cão raivoso’, naturalmente com a doçura de quem aprendeu a construir amizades e uma relação de convivência de um nível ainda hoje inimitável. “Quem menos mandava na sua casa era o próprio Juca”, dizia o estudante de Contabilidade José de Melo, acrescentando que “ele não precisava mandar, pois todos defendiam a casa de Juca como defendiam suas próprias casas”, completou.
:: Visionário e empreendedor
Juca como era conhecido por todos, foi um empreendedor. Visionário, ‘perseguia’ a idéia e a concretizava. Só para citar alguns exemplos:
> Educação – Implantação do 2º Grau no Ginásio Municipal Professor Emiliano Nunes de Moura, que passou a denominar-se Escola (depois Colégio) de 1º e 2º Graus Emiliano Nunes de Moura;
> Cultura – Idealização e fundação da Escola de Samba Unidos de Japaratuba, que brilhou por vários anos na Avenida Barão de Maruim, em Aracaju;
> Comunicação – Lançamento do Jornal ‘O Regional’, que circulou quinzenalmente de 1986 a 1988. O jornal mostrava-se sintonizado com o seu projeto, se não vejamos uma manchete: “O dinâmico prefeito Pedro Moura”.
> Sua aldeia – Juscelino acumula algumas frustrações, decepções, mas acumula, principalmente, um legado que nem ele imagina: iniciou uma geração nos caminhos da cidadania, de intervenção social com atitude, da valorização cultural, do bairrismo necessário, da apropriação dos elementos culturais como valor incalculável. Quando Bertold Brecht soprou a frase “quanto mais você canta sua aldeia, mais universal você se torna”, involuntariamente ele estava definindo este cidadão do século XX.
> Ídolo de uma geração – Somos uma geração que nos orgulhamos de ter conhecido Juscelino Britto, de ter aprendido muito com ele e hoje, modestamente estamos transmitindo estes conhecimentos acumulados com este grande mestre que é o nosso querido Juca.
> A falta que nos faz – Com outras atribuições laborais, Juca tem vindo a ‘seu torrão’ esporadicamente, ‘matando de saudade’ uma geração hoje na faixa de 35 a 45 anos. Sua ausência tem deixado Japaratuba menor, diante de seu potencial, pelo muito que fez e pelo muito que ainda poderia fazer. Mas o exemplo dado é para sempre!
:: Nossa homenagem
Não vamos esperar para homenagear Juscelino quando este completar 100 anos. As homenagens a este grande japaratubense, talvez o maior de sua geração, deve ser feita em vida. Ele que já viveu mais de 40 e menos de 60, pode ser que não chegue a idade de dona Maria Rita dos Prazeres, que completou 111 e recebeu uma casa de alvenaria, mas com certeza viverá mais que Arthur Bispo do Rosário. Inclusive, assistindo a festa do seu centenário, quando esta vier!
:: Comentário:
"Achei maravilhoso a homenagem ao prof. Juscelino, quando estudei no ginásio Emiliano Nunes de Moura de 1982 à 1985, tive aula com ele de EMC, foi no tempo da diretora Genólia,se não me engano ele também foi vice- diretor na época, ele é uma pessoa impar, fez muita diferença na minha vida academica, tenho muitas saudades daquela época. (Terezinha - Guarulhos/SP - Em: 06/09/2009)
(1) Publicado pela primeira vez em 17/05/2009
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