6 de fev. de 2011

ECOS POLÍTICOS... A trajetória do Partido dos Trabalhadores em Japaratuba

Uma história que se confunde com as lutas sociais do povo da terra da Missão de Nossa Senhora da Saúde
Por Claudomir Tavares * | claudomir21@bol.com.br

I – Introdução:

A História do PT em Japaratuba teve início no final na década de 80 do século passado, embora a tentativa de se construir o Diretório Municipal só tenha vingado 7 anos depois, a partir de 19 de novembro de 1995, em Encontro Municipal de Lançamento ocorrido na Câmara Municipal.
A primeira Comissão Dirigente Municipal Provisória do PT em Japaratuba foi designada pela Comissão Executiva Estadual em 12 de janeiro de 1988 ¹ . Foi registrada no Tribunal Regional Eleitoral em 15 de novembro do mesmo ano.

A composição daquela primeira direção estava assim distribuída: 1 – João Batista Natividade dos Santos, residente no Loteamento Eribaldo Vieira (Presidente); 2 – Dácio Vieira dos Santos, residente a Rua Getúlio Vargas, 200; 3 – José Pedro dos Santos, residente no Loteamento Eribaldo Vieira; 4 – José Roberto da Silva, residente a Rua são João, 64 e 5 – Adilson dos Santos, residente a Rua Rio de Janeiro, 804.

Apesar de constituída de direito, os filiados que tiveram a iniciativa de constituir o PT em Japaratuba não instalaram o Diretório Municipal. Assim, esta Comissão Provisória teve seu mandato renovado pela Executiva Estadual em 04 de maio de 1988, conforme registro conferido pelo Tribunal Regional Eleitoral em 16 de maio de 1988 ².

A iniciativa pela instalação do PT em Japaratuba partiu de Adilson da Silva, ex-mineiro da extinta Petromisa (atual Companhia Vale do Rio Doce) e dos seus contatos estabelecidos com os integrantes da direção estadual do PT, José Eduardo de Barros Dutra e Marcelo Farias Barreto, dirigentes da Apemisa, atual Sindimina – Sindicato dos Mineiros de Sergipe. A direção estadual designou informalmente o petista de Pirambu, Claudomir Tavares da Silva ³ para acompanhar o processo de instalação do partido em Japaratuba.

Apesar do V Encontro Estadual do PT ter proibido alianças com os partidos de direita e de centro, os petistas de Japaratuba se anteciparam ao seu tempo, apoiando de fato a candidatura do padre Gerard Olivier (PMDB) a prefeitura de Japaratuba em 1988. O PT de Japaratuba, naquele momento, estava esvaziado e seus precursores já não atuavam na condição de dirigentes, também para não contrariar as decisões das instâncias superiores.

Só no final de 1994, com novos “atores” sociais em cena, o Partido dos Trabalhadores volta a se reunir em Japaratuba, para iniciar uma segunda e decisiva fase na sua vida partidária.

II – 1995: 300 Anos de Zumbi – Nasce o PT em Japaratuba

No final de 1994 um grupo de petistas já se articula em torna da idéia de se construir o PT em definitivo no município de Japaratuba. Eram eles professores, estudantes, trabalhadores rurais, sem terra, líderes religiosos, enfim, um forte agrupamento que inseria o partido nos movimentos sociais.
Eram herdeiros de uma luta que outros tinham iniciado no passado, cujas sementes contribuíram para o nascimento do mais forte, mais atuante e que no futuro iria alcançar sucessivas vitórias no Vale do Japaratuba.

As primeiras reuniões foram realizadas após as eleições de 1994, no Assentamento Ivan Ribeiro, no povoado São José. Lá estavam o dirigente nacional do MST, José Roberto Alves da Silva, os professores José Joaquim da Silva Santos e Luciano Acciole Gomes, o bancário Almir Cardoso da Costa, o agricultor Edgar dos Santos, o petroleiro Rui Brandão, entre outros que ajudaram a reconstruir o partido.

Nestas reuniões, participavam na condição de convidados, os dirigentes estaduais José Eduardo Dutra (eleito senador da República), Marcelo Déda Chagas (eleito Deputado Federal), o bancário Sílvio Santos, o professor Claudomir Tavares da Silva, o petroleiro Lacerda Oliveira, além dos aliados em Japaratuba, o ex-prefeito Padre Gerard Olivier, as professora Conceição Vieira e Denise e a vereadora Berenice Sobral, todos pertencentes ao PMDB.

A primeira Comissão Executiva Municipal Provisória, eleita em um destes fóruns preparatórios foi registrada em 25 de setembro de 1995 e era presidida pelo professor José Joaquim Silva Santos, atualmente filiado ao PSB, do qual é seu presidente municipal.

A 1ª Convenção Municipal do Partido dos Trabalhadores foi um acontecimento de tamanha grandeza. Reunidos na Câmara Municipal de Japaratuba estavam lá centenas de filiados, convidados e dirigentes estaduais. Duas chapas disputaram o comando do Diretório Municipal. A primeira encabeçada pelo petroleiro Rui Brandão, apoiada pela Articulação Unidade na Luta e independentes e a segunda encabeçada pelo dirigente nacional do MST José Roberto Alves da Silva. Venceu o petroleiro Rui Brandão, sendo assim seu terceiro presidente municipal.

III – Os primeiros testes nas urnas: A eleição do 1º vereador, as vitórias de Lula e Déda

O Partido dos Trabalhadores disputou sua primeira eleição em 03 de outubro de 1996, numa chapa que tinha como candidato a prefeito o Padre Gerard Olivier (PMDB) e vice-prefeita a professora Conceição Vieira (PT). Depois de uma campanha cuja marca foi a presença popular dos movimentos sociais e setores comprometidos com a cidadania, venceu o candidato do prefeito Hélio Sobral, o ex-prefeito (1983/88) Pedro Moura Neto, do PFL. Foi uma desagradável surpresa, uma vez que a candidatura do Padre Geraldo era uma locomotiva popular.

Ao PT restou o consolo de eleger seu primeiro vereador, a agricultor Edgar dos Santos, que dois anos depois (1998) desfiliava-se do partido, não pagando as contribuições partidárias, e apoiando a candidatura a reeleição do deputado estadual Reinaldo Moura (PFL). Edgar vai para o PPS, integra o grupo do prefeito de Pirambu André Moura (PFL) e na eleição seguinte (2000) volta a aliar-se ao Padre Geraldo (agora no PT), reelegendo-se vereador.

IV – Padre Geraldo no PT

Em 1997 o Padre Geraldo e um número considerável de partidários seus filia-se ao PT e passa a coordenar as ações do Partido dos Trabalhadores em Japaratuba, a partir do 5º Encontro Regional do PT – Vale do Japaratuba, realizado em maio de 1998 no Museu das Tartarugas, em Pirambu. O Padre Gerard era uma unanimidade para concorrer uma vaga na Assembléia Legislativa, mas alegou questões de fórum íntimo para não aceitar.

Nesta eleição realizada em 1998, o PT em Japaratuba obtém uma conquista fenomenal, com as vitórias do candidato Marcelo Déda, reeleito o mais votado em Sergipe, campeão absoluto em Japaratuba. Divididos entre duas candidaturas, a do sem terra Zé Roberto e a do Padre Isaías Carlos Nascimento Filho, o PT testemunha mais uma vitória do candidato do prefeito, Reinaldo Moura, Reinaldo Moura, campeão de votos em Japaratuba (repetia-se uma marca fincada desde 1978).

V – Joaquim no comando

Nas eleições de 1997 e 1999 os filiados do Partido dos Trabalhadores elegeram e reelegeram o professor José Joaquim Silva Santos para a presidência do Diretório Municipal. Durante este período, o partido conquistou a prefeitura municipal, elegeu dois vereadores (Luciano Aciole e Elizete Neres) e se instalou na sua sede, onde se irradia para todos os povoados e se constitui no diretório mais alicerçado de Sergipe.

VI – PT no poder! Padre Geraldo prefeito de Japaratuba

A primeira tentativa de o Padre Geraldo chegar a prefeitura se deu em 1982, ainda no PMDB. Tendo sua candidatura impugnada pela Justiça Eleitoral, ele apóia um outro candidato do seu partido, Jócio Menezes, que fora o mais votado. Como a soma de legenda dos três candidatos do PDS fora maior que a do candidato do PMDB, Pedro Moura, o segundo colocado acabou sendo eleito prefeito de Japaratuba, beneficiando-se assim de uma manobra arquitetada ainda na época da ditadura militar, no poder desde 1964 Seis anos depois, o Padre Geraldo é candidato novamente pela chamada Força Popular, reunindo os partidos PMDB, PDC, PSB e PDT, tendo como candidato a vice-prefeito o jovem engenheiro agrônomo Hélio Sobral Leite. Ele vence a Carlos Lemos Menezes (PFL), candidato do prefeito Pedro Moura.

Em 1992, Padre Geraldo apóia o seu vice-prefeito, agora no PMDB, que derrota o candidato Pedro Moura, que tentava retornar a prefeitura. Hélio Sobral elege-se e dos anos depois rompe a aliança política na eleição estadual em que o Padre Geraldo apóia a candidatura do ex-prefeito de Aracaju Jackson Barreto (PDT) para governador, contra o senador Albano Franco (PSDB), candidato do governador João Alves Filho PFL).Padre Geraldo, apóia o candidato a senador José Eduardo Dutra, do PT, se aproximando do partido que se filiaria em 1997.

Em 1996 o Padre Geraldo parte para sua terceira disputa para a prefeitura, desta vez contando com a companhia da professora Conceição Vieira, ex-PMDB agora no PT, sendo derrotado para o candidato do prefeito Hélio Sobral, que apoiou a candidatura do ex-prefeito Pedro Moura Neto, do PFL. Pedro Moura tinha como candidato à vice-prefeito o comerciante e vereador Carlos Lemos (PP), que na outra eleição seria candidato a vice-prefeito na companhia do Padre Geraldo.

Agora no PT e de forma surpreendente contando com o apoio do grupo liderado pelo deputado estadual Reinaldo Moura (PFL), do prefeito de Japaratuba Pedro Moura Neto (PPS) e do prefeito de Pirambu André Moura (PFL), o padre Gerard Olivier elegeu-se prefeito, derrotando o candidato do PTB, o ex-prefeito Hélio Sobral Leite. Naquela eleição, o PT elegeu os vereadores Luciano Acciole Gomes e a presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais Elizete Neres, que debandou do PT para mais tarde filiar-se ao PFL da adversária do PT Lara Moura, atual prefeita municipal.

VII – Diretas no PT: A unidade em torno de Luciano Acciole

Em 2001 o PT dá um exemplo para o mundo ao promover eleição direta de todos os seus presidentes: municipal, estadual e nacional. Realizada em 16 de setembro, em Japaratuba o resultado indicou vitória do professor e vereador Luciano Acciole Gomes – presidente municipal, do senador José Eduardo de Barros Dutra – presidente estadual e do deputado federal José Dirceu – presidente nacional. O resultado se confirmou em Sergipe e no Brasil e Luciano, candidato de consenso, imprimiu um ritmo ao partido, colocando-o em sintonia com as bases, em particular com a juventude.

VIII – Lula Lá! O Bi-Campeonato em Japaratuba

As eleições 2002 foram extremamente positivas para o Partido dos Trabalhadores. Depois de quatro tentativas (1989. 1994, 1998, 2002), o partido finalmente conquista o principal posto do país. A eleição de Luís Inácio Lula da Silva e da maioria do Congresso, deu ao PT a governabilidade que se ampliou com os aliados do PMDB, PTB, sendo o resultado de um processo de luta iniciado no final dos anos 80 do século passado e que se irradiou pelo pais a fora.

Em Japaratuba, o candidato do PT (o senador José Eduardo Dutra), alçado ao segundo turno, foi derrotado pelo esquema montado pela estrutura que se reuniu em torno do candidato da direita, João Alves Filho (PFL), que conquistou seu terceiro mandato, anunciando uma “reciclagem”, que se mostra uma caricatura dos seus dois governos anteriores. Ao PT, coube comemorar a vitória de Lula, mantendo a posição de 1998, quando o PT venceu também naquele município.

Com relação às candidaturas proporcionais, houve uma divisão no partido: os petistas articulados em torno da administração municipal, ficaram com Samarone para federal e Sílvio Santos para estadual. Já o grupo liderado pelo professor e vereador Luciano Acciole, presidente municipal com o apoio das bases partidárias, ficou com João Fontes para federal e a professora Ana Lúcia para estadual.

Venceram estes dois últimos, sendo que em 2003 João Fontes foi expulso do PT, por contrariar a posição do partido no que diz respeito às medidas enviadas ao Congresso, tendo ele votado contra.

IX – De volta ao poder! Padre Geraldo reeleito

A divisão de 2002 serviu de lição para o PT se unir em 2004, reelegendo o prefeito Padre Gerard com 4.464 votos, que enfrentou a poderosa candidata do PFL, Lara Moura, que ficou com 4.415 votos, e que tinha como candidato a vice-prefeito o ex-prefeito por dois mandatos Pedro Moura Neto (PPS). O PT elegeu também três vereadores: Valdomiro com 454 votos, André de São José, com 259 votos e o professor Luciano Acciole, com 211 votos.

Por este resultado, o PT teve sua administração aprovada com a reeleição do prefeito Padre Geraldo e do seu vice, Hélio Sobral (PMDB) que reataram a aliança iniciada em 1988 e rompida em 1994, e a ação parlamentar corajosa confirmada com a reeleição do professor Luciano para a Câmara Municipal, vendo-se de longe a derrota da sua ex-vereadora Elizete Neres.

X – Novos Capítulos

A História do PT em Japaratuba tem vários capítulos reservados. Alguns já acontecidos e de conhecimento do nosso público, outros ainda por vir e que serão contados pelos vários autores que nos sucederão. Aqui procuramos registrar os momentos vividos enquanto ainda estávamos no PT, uma página da minha vida que iniciou em 1985 e que foi concluída em 2003, mas que muito acrescentou em nossa trajetória de cidadão. Deixei de relatar os episódios das disputas eleitorais desde 2006, as disputas internas desde 2005, por entender que não estou mais em condições de analisá-las pelo ângulo que enxergaria. Assim, utilizando-se de nossa honestidade intelectual, inserimos a trajetória do PT em Japaratuba no marco histórico que me julguei competente, por ter testemunhado alguns destes momentos, muitos deles como protagonista.

* Claudomir Tavares da Silva (42) é professor das redes públicas municipal em Pirambu, estadual em Propriá e do Pré-Universitário – Pré-UNI/SEED, mantendo relações de respeito pela memória e história do partido que ajudou a construir e que contribuiu com a sua formação política e cultural.

Nota:

¹ Conforme Página 48/verso do Livro 1 da CEE/PT-Sergipe
² Conforme Página 51/verso do Livro 1. da CEE/PT-Sergipe.
³ Foi dirigente municipal do PT em Pirambu, da regional do PT Vale do Cotinguiba e da Direção e Executiva Estadual do PT. Desfiliou-se em 20 de junho de 2003

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