Por Claudomir Tavares | claudomir@infonet.com.br
Há 19 anos, no dia 06 de dezembro de 1990, nascia em Pirambu a Revista SEIVA, publicação trimestral do Diretório Municipal do Partido Comunista do Brasil – PC do B, editada pelo professor Claudomir Tavares da Silva. A 1ª edição estava datada de dezembro de 1990, janeiro e fevereiro de 1991 e trazia como principais manchetes: Eleições no Emiliano, Situação Municipal – O prefeito César Cocha, Registro: 70 anos da Colônia de Pescadores, 25 de Pirambu e os primeiros formandos do 1º Grau (1984).Seu Editorial fazia assim uma descrição do papel da revista: “Seiva buscará ser uma trincheira em defesa do povo, um instrumento de leitura voltado para os trabalhadores em defesa do socialismo, como alternativa para os dilapidantes problemas que afetam a humanidade”.
A Revista SEIVA circulou no período de dezembro de 1990 a setembro de 1992, publicando 8 edições. “Desfilaram” em suas páginas vários temas ligados à política, cultura, economia, sociedade, educação, história e movimentos populares e sindicais. Alguns merecem destaque pela repercussão provocada à época.
A revista já em sua primeira edição marcava sua posição de enfrentamento a política articulada pelo prefeito César Rocha, o ex-prefeito Marcos Cruz e a sua esposa, Silvia Cruz, que iria suceder a César Rocha em 1993. “É necessário que os setores populares e democráticos, além daqueles que se contrapõem ao projeto César-Marcos-Sílvia se organizem já de agora objetivando concretizar uma alternativa capaz de libertar Pirambu das amordaças que o prende”.
A Revista SEIVA estava permanentemente debatendo as eleições em Pirambu, sejam elas na Colônia de Pescadores ou para a prefeitura municipal. Sobre as eleições que se avizinharam, dizia a revista em julho de 1991, sobre as eleições municipais que seriam realizadas em 1992: “O processo eleitoral de 1992 começa a pegar fogo depois do ‘casamento dos matutos’ promovido pela família Amaral. (...) Os vários (...) grupos se articulam visando superar os prováveis obstáculos e assim facilitar o processo eleitoral. (...) existe a possibilidade de uma união de Amaral e Nelson”. A revista tinha uma afinadíssima veia poética, publicando poemas de autoria de Claudomir Tavares, Valdemar Nascimento, Araripe Coutinho, Tuca, Bela, Bertold Brecht, Juarez/Marinoé, Maurício Oliveira, Cora Coralina, Ziraldo e tantos outros. Nenhum deles chamou tanta atenção como o anônimo, confeccionado pelos opositores do presidente Collor:
“O diabo alagoano
Estando desocupado
O Grão-duque Satanás
Teve uma idéia nociva
Horripilante e mortás
Colocou numa caldeira
Vinte pipas de aguardente
Dez mil cobras venenosas
E um diabo demente
Sublimado corrosivo
Sulfato de estriquinina
Vinte peles de IemaD
ez quilos de cocaína
Rabujo de dez raposas
Apetite de Urubu
Espírito de Caim
Vinte quilos de Timbu
Tudo isso misturado
Em uma caldeira a ferver
Tomou forma de gente
Como satanás quis fazer
Ainda achando pouco
Lambuzou merda de porco
Como se fosse caramelo
E ao soltá-lo no mundo
Batizou o vagabundo
FERNANDO COLLOR DE MELO”
Na mesma edição, numa entrevista feita por telefone com o então vice-prefeito Nelson Vieira (1989-1992), Nélson Vieira afirmava o que hoje o Brasil é testemunha ocular: “Até hoje no Brasil, quem ganhou o poder, não provou o que dizia nos palanques”.
As edições de número 04 e 05 analisaram as administrações dos prefeitos Padre Geraldo (PMDB) de Japaratuba e Teotônio Neto (PF) de Carmópolis. Na primeira, dizia que ser impopular a Força Popular , enquanto na segunda afirmava que Teotônio Neto comandaria o processo sucessório no município, tomando das mãos “dos homens do acórdão esta tarefa”.
Na mesma edição, Seiva trazia uma entrevista com a médica Dra Martha Augusta, que seria eleita posteriormente vereadora (teve o mandato cassado) em 1992 e vice-prefeita de André Moura em 1996, com quem rompeu em 1999. Naquela época Pirambu tinha saído de um surto de Meningite Meningocócica do tipo B. “Atualmente já estamos há alguns meses sem apresentar nenhum caso, mas não tenho como garantir que não tenhamos um outro surto”.
Foi a Revista SEIVA responsável pelo primeiro registro da História da Imprensa em Pirambu. Em uma matéria de três páginas, foram documentados a trajetória dos jornais “O Clarim”, “Jornal de Pirambu”, “O Povo”, “A Voz do Pescador”, “O Atlântico”, “Tribuna da Praia”, “Revista Seiva” e “Alternativa”. Eram “o consistente (...) ‘O Clarim’, o limitado ‘O Povo’ (...), a temida ‘A Voz do Pescador’ (...) e a polêmica ‘Tribuna da Praia’ “.
Na penúltima edição da revista, era feito um balanço dos 3650 dias que totalizariam as administrações de Marcos Cruz (1983-1988) e de César Rocha (1989-1992) e suas implicações na sua candidata a secessão: “separar a candidatura (...) da desastrosa administração do prefeito César Rocha, é como se separássemos a cabeça do corpo”.
A última edição da revista Seiva fazia uma avaliação dos nove anos da imprensa em Pirambu, desde “O Clarim”, dizendo da sua importância para Sergipe que inspirou o surgimento de jornais em Japaratuba, Carmópolis, Salgado e Santa Luzia do Itanhy.
__________________________________________
* Professor de História da rede pública municipal em Pirambu e de Cultura Sergipana da rede estadual em Propriá. Diretor-fundador da Tribuna da Praia, da Tribuna On-Line e da Revista Seiva.
Referencias Bibliográficas:
SEIVA. Editorial. Ano I – Nº 01 – dez./1990, jan. e fev./1991. p. 03.
SEIVA. Em dois anos de mandato, uma nota vermelha. . Ano I – Nº 01 – dez./1990, jan. e fev./1991. p. 05.
SEIVA. Sobre as eleições em Pirambu. Ano I – Nº 03 – Jul., Ago. e Set./1991. p. 09.
SEIVA. O diabo alagoano. Ano I – Nº 04 – Out., Nov. e Dez./1991. capa.
SEIVA. Nasci na esquerda e luto por Pirambu. Ano I – Nº 04 – Out., Nov. e Dez./1991. p. 04.Slogan da primeira administração do Padre Geraldo.
SEIVA. Teotônio Neto comanda sucessão em Carmópolis. Ano II – Nº 05 – Jan., Fev. e Mar./1992. p. 03.
SEIVA. Dra Marta e o atual estágio da saúde em nosso município. Ano II – Nº 05 - Jan., Fev. e Mar./1992. p. 07
SEIVA. Uma história, um editor, 6 jornais e 2 revistas. Ano II – Nº 06 – Abr., Mai. E Jun./1992. p. 05.
SEIVA. 3.650 dias, 10 anos: muito tempo, sofrimento. Ano II – Nº 07 – Ago./2003. p. 07.
SEIVA. Um novo impulso. Ano II – Nº 08 – Set./1992.
Nenhum comentário:
Postar um comentário