7 de set. de 2010

Ah! Então foi isso!

Professores utilizam praguinhas de André e provocam celeuma no movimento
Por Claudomir Tavares * |claudomir@tribunadapraia.net

 
Manifestante expressa preferência por candidato em movimento dos professores de Pirambu

Uma foto capturada na última quarta-feira, 01/09, ilustra o que pode ter motivado, ou provocado o estopim do ‘diálogo’ acalorado entre o professor da rede municipal Pedro da Cultura, que em sua manifestação representava os anseios de pelo menos um terço dos 42 professores presentes a fatídica Assembléia Geral da rede municipal de ensino de Pirambu realizada no final da manhã de ontem, 06/09 no Clubinho da Tartaruga, e o professor da rede estadual Francisco Andrade, diretor do Departamento para Assuntos das Bases Municipais da Direção Executiva do SINTESE.

Pelo menos cinco dos 37 professores presentes a manifestação de rua daquela quarta-feira, quando teve início o movimento grevista, portavam ao final do ato adesivos do candidato a deputado federal André Moura (PSC), que disputa a mesma vaga do professor e deputado federal Iran Barbosa (PT), ex-presidente do SINTESE e um dos líderes, junto com a professora e deputada estadual Ana Lúcia (PT), da corrente política que dirige a entidade máxima do magistério em Sergipe. Isso, provavelmente, deve ter inflado o discurso virulento do professor Francisco e a reação numa proporção ampliada do professor Pedro da Cultura.

Da parte deste portal, que desde 2006 temos acompanhado e documentado a trajetória de luta dos professores da rede municipal de ensino em Pirambu, não nos opomos que tanto militantes de base ou dirigentes sindicais postem individualmente adesivos, manifestando suas preferências, uma vez que isso faz parte do pluralismo de idéias historicamente construído no movimento sindical brasileiro, e se assim não for, as entidades estão sendo transformadas em correias de transmissão de corrente A e B e neste particular, tais práticas devem ser condenadas.

Mas, como acreditamos que “o homem é um animal político”, assim definido por Aristóteles (384 a. C.- 322 a. C.), não acreditamos em neutralidade nos agrupamentos humanos, em suas práticas coletivas ou individuais. Assim, é sabido que o grupo que atualmente comanda o SINTESE em Sergipe e na ampla maioria dos municípios de Sergipe (com exceção a Pirambu) está a serviço do projeto de reeleição dos deputados Iran Barbosa (federal) e Ana Lúcia (estadual), e neste sentido tem defendido propostas que os beneficie neste período que antecede a grande festa da democracia, que é a eleição de 03 de Outubro de 2010.

Um exemplo sintomático é a proposta defendida efusivamente pelos interlocutores do SINTESE para que professores de Pirambu compareçam a Assembléia Legislativa na próxima quarta-feira, 08/09, para que no Grande Expediente da Sessão Plenária que acontece na parte da tarde, possa compor a claque de fundo do discurso que fará a deputada estadual Ana Lúcia, relatando a situação dos professores de Pirambu, ocupando espaços da TV Alese. Seria esta uma proposta interessante se não ocorresse neste momento em que a grande beneficiada seria a deputada que tenta mais um mandato naquela casa.

De nossa parte pessoalmente somos um daqueles que, apesar de não votar nem em Ana nem Iran (pois participo de um outro projeto diametralmente oposto daquele defendido por ambos, que é a continuidade de um projeto que consideramos a maior tragédia política que se instalou em Sergipe, de traição aos trabalhadores, representado pelo senhor Marcelo Déda), torço pelas renovações de seus mandatos, por entendê-los como positivo para fazer avançar as lutas dos trabalhadores em nosso estado, principalmente da categoria do magistério, do qual integramos desde 1988 na rede estadual e desde 1998 na rede municipal.

Mas não podemos aceitar que o movimento sindical possa constituir-se em uma extensão de comitês eleitorais, ou sejam confundidos tomo tais, servido de correias de transmissões de seus respectivos agrupamentos políticos. Entendemos que o espaço de luta é um local privilegiado para externar nossas idéias, como fez o PT através de Elder Muniz, que inclusive utilizou da palavra para pedir explicitamente votos e o engajamento da categoria nos projetos de Iran e Ana (achando apenas que, com todo respeito que merece o Elder, ao utilizar da palavra, extrapolou desta condição, permitido que foi pelo professor Francisco, com a aquiescência de sua posição, que neste caso foi monocrática), e como nós o fizemos, distribuindo duas edições da ‘Agenda 21’, órgão de comunicação impressa do PCB, em que manifestava publicamente Moção de Solidariedade ao movimento em uma delas e documentava a manifestação em uma outra.

Assim como, da mesma forma, ainda que não comungando das idéias e do projeto que defende, não podemos condenar que qualquer professor possa professar sua posição, sua opinião, utilizando praginha anunciando sua preferência eleitoral. Defendemos, entretanto, que cada um possa atuar de forma que a liberdade de um termine no tempo e no espaço em que comece a liberdade de outro, e que a instituição SINTESE possa ser preservada nos seus 34 anos que vão desde a APMESE, passando pela incorporação do CEPES, até a ação unificada que instituiu o SINTESE há 20 anos.

Ao escrever estas considerações, o faço com a legitimidade de quem tem participado ativamente da luta sindical do magistério sergipano desde 1988 e tendo iniciado junto com um grupo não pequeno sua construção na rede municipal desde 2006. Hoje é 7 de setembro de 2010, época em que celebramos os 188 anos de Independência do Brasil. Para nós, um momento de reflexão, pois a nossa independência é um caminho que se mantém presente na luta contra o imperialismo que domina nosso pais, ainda que sob a batuta de um governo que se propõe democrático-popular, o que não concordamos que seja, pelo que se propôs e pelo que se transformou.

E por último, uma pergunta que não quer calar: por que será que alguns dos pioneiros do movimento sindical dos professores em Pirambu se abstiveram das atividades do SINTESE já há algum tempo? Só não vale responder que se renderam, se venderam, capitularam, pois seria além de uma injustiça diante da tamanha contribuição dada por estes companheiros nos últimos quatro anos, um erro anacrônico de avaliação. Qualquer que seja outra resposta, é necessário se estabelecer o contraditório e uma reflexão obedecendo a mais rigorosa honestidade científica, no que diz respeito aos elementos sociológicos que a questão implica.

Indispensável dizer que este espaço está aberto para a livre expressão do contraditório, marco que constitui os pilares dos 27 anos deste que tem sido o mais democrático dos jornais alternativos e portais de notíocias do interior de Sergipe e que há quatro anos é o verdadeiro guardião das lutas dos profissionais do magistério em Pirambu, estendendo-se para sua extensão em nosso estado.
 
* Professor das redes municipal (Pirambu), estadual (Propriá) e do Pré-Uni (Seed) - Diretor-fundador da Tribuna da Praia.

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